segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A banalização da mulher no forró.


Galera forrozeira, não foi por acaso que decidi usar a capa deste CD do MASTRUZ COM LEITE, para ilustrar este artigo. Este riquíssimo trabalho da “mãe de todas bandas”, foi um disco campeão de vendas, um clássico do nosso forró recheado com grandes sucessos, dentre eles está a canção que intitula o disco, a faixa “MULHER” composta pelos compositores JEOVÁ DE CARVALHO e DADÁ DI MORENO e interpretada pelos talentosos ADUÍLIO MENDES e FRANÇA, a música faz uma bela homenagem a este ser divino e maravilhoso que é a mulher, os versos exaltam a força, a fibra e a coragem destas guerreiras que não desistem nunca e que trazem no ventre o dom de gerar a humanidade.

Aí está o X da questão, de uns tempos pra cá o nosso forró vem caindo de qualidade. As letras de hoje não são iguais as letras de ontem, ao invés de evoluir o nosso forró regrediu, principalmente em sua musicalidade. A sanfona, estrela principal da festa, que dita as regras do nosso ritmo vem sendo deixada cada vez mais de lado, por parte de algumas bandas, que estão resumindo os seus trabalhos em uma batucada, se continuar desse jeito a profissão de sanfoneiro será extinta.

Sem dúvida a mudança mais sentida em nosso forró foi em relação as letras das canções, parece que as rimas as métricas perfeitas e as melodias bem trabalhadas foram substituídas pelos palavrões, frases sem pé e sem cabeça, erros da língua portuguesa e músicas com refrões fáceis que entram na mente dos forrozeiros feito lavagem cerebral, mas que logo, logo abusam ou seja, sucessos descartáveis com prazo de validade e aí vem outras, outras e mais outras ocupando o espaço daquela que fora esquecida, tornando-se assim um círculo vicioso que só empobrece o nosso forró.

Não existe mais duplo sentido no forró, a coisa agora está tão direta que, aqueles forrós maliciosos e criativos dos cantores forrozeiros: SANDRO BECKER (“Julieta tá, tá me chamando”) ou CREMILDA , (“seu delegado prenda o Tadeu ele pegou a minha irmã e...”), se tornam até inocentes em relação aos atuais feitos pelas bandas de forró que abusam da liberdade e da falta de censura cara falaram o que querem e como se não bastasse estão alongando os palavrões para os seus slogans. São casos deprimentes.

A mulher citada no início deste artigo, que antes era tão elogiada em nosso movimento, parece que se tornou alvo da vulgaridade.“Rapariga”, “cabaré” são mel na boca dos cantores, que pensam que pra fazer sucesso é necessário usar esses temas e outros mais pesados. A própria MASTRUZ também vacilou, quando decidiu gravar a canção "BOMBA NO CABARÉ", mas pelo seu retrospecto dentro do forró e por ser apenas uma canção dentro do seu repertório merece um certo desconto. A verdade é que o forró sempre foi sensual e sempre será, mas existe uma linha muito tênue que separa a sensualidade da vulgaridade e na busca desenfreada pelo sucesso muitos extrapolam na medida e acabam beirando o ridículo.

O que me motivou a escrever este artigo foi uma canção que ouvi numa dessas webradios que tocam forró, uma música de uma banda recente chamada mulher chorona, que pertencente ao sr. ERIVAN MORAIS dono da banda COLLO DE MENINA. Não faço idéia qual seja o título da canção nem quem a compôs (e nem faço questão de saber), pois a letra dessa música é de um mau gosto tremendo, conta a estória de uma mulher com fortes tendências sadomasoquistas, que só sossega quando seu “macho” lhe sentar a mão.

Se pararmos pra pensar o Nordeste figura entre as regiões que mais registram casos de espancamento em relação as mulheres, mesmo com a implantação da lei “MARIA DA PENHA” que pune severamente aqueles que agridem covardemente as mulheres os números ainda são alarmantes, as estatísticas não mentem. Acompanhe a letra da e tire suas conclusões:

Olha esse papo de carinho comigo não rola não
Homem tem que ser safado me domar com a sua mão
Tem que faltar com respeito e me amar no chão
Se não puxar no meu cabelo, amor não rola não.

E tem que “tacar” na parede me chamar de lagartixa,
Me chama de pneu e me da uma calibrada
Me jogar no chão como se eu fosse um tapete
Sou mulher indomada só aprendo no cacete.


Não caio mas nesse negócio de amorzinho
Beijinho, carinho de me dar paixão
Eu quero um tarado que dê em mim o dia inteiro
Que me ame no banheiro e que me taque a mão.

Tacar a mão, Tacar a mão, Tacar a mão,
Me taca na parede me amar no chão,
Tacar a mão, Tacar a mão, Tacar a mão,
Me taca na parede e me amar no chão.



Não sou nenhum puritano, nem tão pouco o dono da verdade, visto que recebo diariamente e-mails e ouço comentários de muitos forrozeiros que compartilham da mesma opinião e acreditam piamente que são canções desse tipo que enfraquecem o nosso movimento e pioram a nossa imagem perante as outras regiões e aos outros seguimentos musicais. Por isso abomino canções desse tipo, que desvalorizam as mulheres, que tanto admiro, em nome das mães, filhas, irmãs, esposas, tias e sogras, amigas, etc e em especial as mulheres da minha vida, minha mãe e minha namorada.

por: Alcides Santos

Confira agora a canção "MULHER" do FORRÓ MASTRUZ COM LEITE, e compare a diferença entre ela e a letra citada acima:


7 Comments:

Unknown said...

Quero parabenizar Alcides pelo comentário,vc tem razao Alcides,infelizmente o forró ja nao ganhou mais adeptos por causa de muitas letras que fazem vergonha de se ouvir e sabemos que nao precisamos disso,porq temos tantas riqueza nordestina..

Anônimo said...

eu concordo plenamente com sua opinião alcides.. infelizmente nosso forró tomou um rumo parecido com o funk... vale a pena olhar os fatos pelo lado sociocultural... realmente as cançoes incentivam a prostituiçao , a violencia , a vida futil , sexo e o alcolismo.. .coisa que pode nao fazer muita diferente p quem sabe separar as coisas mas que pode influenciar que nao é preparado culturalmente e assumir isso como valor... uma pena!

:\

Anônimo said...

Concorso plenament com voce palavroes e vulgaridade é mel na boca dos cantores...tá um baixaria só

bj

Anônimo said...

É isso aí Alcides.
A música nordestina não precisa chegar a tal grau de baixaria. Não precisa diminuir a mulher, o ser da criação mais semelhante a Deus e nem fazer apologia à cachaça, uma vez que os grandes alcólatras confessam que começaram nas festinhas domésticas ou nas quermesses da igreja. A nossa música é muito rica, principalmente, em letras.

Um abraço de Zé Marconi e seu forró cheiro da terra.

Anônimo said...

concordo com vc,infelismente a sensura não funciona,para podermos da um jeito nesses compositores pobres de letra e cantores sem cultura, a onde vamos parar,com tanta pornografia,para onde foi o ramâtismo e o respeito assim só pioramos o mundo...valeu Alcides por dar um toc a massa forrozeira,essa comentario é para esta na pagina principal.bj

Anônimo said...

Alcides, parabéns pelo post, vc disse tudo, concordo plenamente com vc. Não vemos mais hj em dia letras como "sei q aí dentro ainda mora um pedacinho de mim, um grande amor não se acaba assim.. feito espumas ao vento.." mas pode mudar né... quem sabe.. espero q todos acordem... (Gisele Matias)

Anônimo said...

Cara, 10 para esse teu pensamento.Ha muito que venho tentando fazer um comentário desses e me falta idéias, mais tu escreveste tudo que desejaria ter escrito por isso te dou parabéns.A cultura do nordeste está sofrida com esses grupos ditos de [forro], as rádios ajudam a disseminar essas porcarias e o povo que esta quase sem opções absolve.
O Nordeste regrediu, nos somos obrigados a escutar e ainda quando viajamos para o sul ou sudeste servimos de chacotas e piadas por causa desse grupos de levianos que escrevem e cantam essas fezes.Grato
José Renato Pereira de Moraes